The Double Life of Veronique (1991) - Krzysztof Kieślowski: Quando o conservadorismo expande os horizontes...

 Sinopse: (English Essay Below)

    O filme conta a história de duas mulheres idênticas, mas que não se conhecem: Weronika, uma cantora polonesa, e Véronique, uma professora de música francesa. Ambas compartilham uma conexão espiritual inexplicável, embora vivam vidas separadas. Weronika, durante um concerto, tem uma experiência mística e morre subitamente por problemas cardíacos. No mesmo instante, Véronique, na França, sente uma estranha tristeza e começa a questionar sua própria existência. Sua vida toma um rumo diferente quando ela recebe pistas misteriosas de um marionetista, que parece saber mais sobre sua ligação com Weronika do que ela própria.



Crítica: 

    Em "The Double Life of Veronique", há a exploração de alguns temas, estes sendo relacionados ao cristianismo, ao misticismo como um todo e também na visão do que se é ou não moral e ético. Sendo assim, Kieslowski utiliza desses temas como uma ferramenta que, muitas vezes, serve de alegoria temática e narrativa. Weronika é a representação de uma figura sem começo, tampouco com fim. Ela é o início de uma história maior, um contexto. E assim termina seu ciclo, de forma poética, ela abandona a narrativa calmamente, conquistando o palco, eternas memórias daqueles que estiveram com ela, até mesmo em seu fatídico fim. Por outro lado, Véronique tem um início; no entanto, o custo disso foi o fim de Weronika.




    Pousando em Véronique, caímos sem percepções do local, a não ser a linguagem. A linguagem é um tópico muito importante para entendermos o porquê do diretor ter optado por Polônia e França. Talvez funcione mais como uma curiosidade do que importância narrativa, mas enquanto a narrativa polaca focava no cru, no visceral, a narrativa francesa se "liberta". Na França, Véronique vive o lúdico, uma história, quase que um conto, e isso se engrandece quando o tema aborda o cristianismo e o que é o poder. Voltando para a narrativa francesa, vemos uma reinvenção de Kieslowski, referenciando a si mesmo desde que saiu da Polônia e se reestruturou na França, se destacando assim como um dos principais nomes do cinema europeu.




    Por fim, chegamos no debate mais intenso do filme: a ética e a moral religiosa. Ser e não ser é um tópico alegórico de conviver consigo mesmo e estudar a si como uma segunda pessoa: autocrítica. O que o filme materializa com a atriz Irène Jacob, sendo personagens com características diferentes, e ainda assim, sendo a mesma pessoa. Com isso, ao nos colocarmos em terceira pessoa como críticos de si, criamos uma nova persona, e nisso entra o interesse amoroso de Véronique: um escritor que se vê como um maestro de uma orquestra, essa, sendo sua vida e suas experiências.

   

 Ele brinca de Deus ao manipular Véronique, desumaniza e reestabelece conexões como se não fosse nada. Ser Deus é um conceito amplo, porém, quando aplicado, é visível. E o filme torna isso um jogo, uma peça de fantoches, onde Véronique é violentada frequentemente pela narrativa: ela se sente só, mas não há ninguém; ela sente amor, mas é apenas mais um teste. Véronique é a solidão de um homem manipulado por um sistema maior, esse que tira a humanidade em prol de uma moral, onde os meios não importam, desde que os resultados se mantenham intactos. Enfim, um filme simples, mas com muito a dizer!





English:

In The Double Life of Veronique, there is an exploration of certain themes, those being related to Christianity, mysticism as a whole, and also the perception of what is or isn’t moral and ethical. Thus, Kieslowski uses these themes as a tool that often serves as a thematic and narrative allegory. Weronika represents a figure without a beginning, nor an end. She is the start of a larger story, a context. And so, her cycle ends—poetically—as she quietly exits the narrative, conquering the stage, leaving eternal memories in those who were with her, even in her fateful demise. On the other hand, Véronique has a beginning; however, the cost of this was Weronika’s end.

Landing on Véronique, we fall without any sense of place, except for language. Language is a very important topic in understanding why the director chose Poland and France. Perhaps it functions more as a curiosity than a narrative necessity, but while the Polish narrative focused on the raw, the visceral, the French narrative "liberates" itself. In France, Véronique lives in the realm of the playful, a story almost like a fairy tale, and this is magnified when the film touches on Christianity and the nature of power. Returning to the French narrative, we see a reinvention of Kieslowski, referencing himself ever since he left Poland and reestablished himself in France, standing out as one of the leading names in European cinema.

Finally, we arrive at the film’s most intense debate: religious ethics and morality. To be or not to be is an allegorical topic about coexisting with oneself and studying oneself as a second person: self-criticism. The film materializes this through actress Irène Jacob, portraying characters with different traits, and yet, they are the same person. By placing ourselves in the third person as critics of our own selves, we create a new persona—and here enters Véronique’s love interest: a writer who sees himself as the conductor of an orchestra, that orchestra being his life and experiences.

He plays God by manipulating Véronique, dehumanizing and reestablishing connections as if they were nothing. Being God is a broad concept, yet when applied, it becomes visible. And the film turns this into a game, a puppet show, where Véronique is frequently violated by the narrative: she feels alone, but there is no one; she feels love, but it’s just another test. Véronique is the loneliness of a man manipulated by a larger system—one that strips away humanity in the name of a morality where the means don’t matter, as long as the results remain intact. In the end, a simple film, but one with so much to say!




Comments