Vive l'amour (1994) - Tsai Ming-liang: interno de Taiwan...
Sinopse:
Em uma Taipei moderna e impessoal, três jovens solitários se cruzam sem saber, presos em suas próprias angústias e desejos. May Lin, uma corretora de imóveis, usa um apartamento vazio para encontros casuais. Ah-jung, um vendedor de rua charmoso, tem um affair passageiro com ela. Enquanto isso, Hsiao-Kang, um vendedor de urnas funerárias tímido e isolado, invade o mesmo lugar em busca de abrigo, observando tudo em silêncio.
Crítica:
Enfim, uma noite calma em Taipei... E, por via das dúvidas, o silêncio fala. O cinema de Tsai Ming-liang é o mais próximo do que podemos chamar de sinestesia cinematográfica: sentimos o sabor do silêncio, vemos palavras sem que haja escrita, experimentamos o gosto de uma vida mal vivida. E, no final, somos apenas eu e você: espectadores de momentos crus e violentos, como uma forma de dizer: "Amigo, nosso tempo está acabando. Viva. Viva sem medo. Mas viva como se fosse seu último dia, sem espaço para julgar erros e acertos — apenas leia seus sentimentos com verdade." E assim a noite cai, Taipei vira cenário para mais uma noite em que jovens adultos se limitam em nome das relações humanas.
Como personagem, Taipei oprime seus moradores. Uma cidade cheia de movimento e calor humano que, pouco a pouco, dita o que deve ou não ser vivido, assemelhando-se até mesmo à nossa conhecida São Paulo. E, assim, duas almas jovens encontram na admiração uma fuga da realidade — azar o deles ser essa admiração uma jovem tão perdida quanto eles. No momento em que tudo se cruza, desilusões se acumulam. Seria essa a punição do século? A idealização de um ser defeituoso. E talvez essa seja sua condenação: a desumanização.
Ser uma pessoa solitária custa momentos de solidão — esta, ao meu ver, sempre acompanhada do silêncio. E, neste filme, o silêncio conversa com quem o assiste. Ele diz que a narrativa não te obriga a abraçar histórias reais, mas sim te desafia a observar aquele mundo, aquele cotidiano, aquelas sensações de forma vívida. Assim como na apresentação de um apartamento feita por uma corretora, o cliente pode optar pelo silêncio — e, nesse instante, vemos que o que nos livra de envolvimentos é o mesmo que nos sufoca pela falta de resposta. Sobra ação, mas falta reação.
E, por fim, três histórias se cruzam pelo medo de amadurecer. Amadurecer é reconhecer seus desejos, e isso parte de uma aceitação cruel: a vida depende de se autoenxergar. Ciclos. Ciclos são formas e desejos que matam o seu "eu" passado. E, em Vive L'Amour, esses ciclos estão fadados a continuar. A cena final é fruto de mais um fim de ciclo, mais um momento em que percebemos que fugas constantes levam à frustração. Sendo assim, crescer é abandonar, abandonar e refletir...
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