Off-Sessions | The God Crippled With One Leg (1994) - Jun Kurosawa
(English Essay Below)
Quando falamos de filmes, temos a tendência a valorizar mais aqueles que se explicam, que não deixam portas abertas. O final ambíguo é um dos terrores do cinema moderno, que tende cada vez mais a "pegar na mão do público" e explicar-lhe o filme detalhe por detalhe. Isso é fruto de uma sociedade acostumada com vídeos curtos e uma ansiedade que a impede de apreciar minutos, frames. Seja o frame longo ou curto, hoje o filme precisa não só explicar, mas também curar essa ansiedade, misturando sons, imagens e até mesmo planos-sequência sem fim, apenas pela estética, como os filmes *1917* (2019) ou Everything Everywhere All at Once (2022). São filmes considerados bons pela crítica e pelo público, mas será que eles não são só um amontoado de reflexões fracas e momentâneas para, enfim, dar ao público o prazer, a endorfina, de um final que não gere decepção? Não que sejam finais felizes, mas que são coerentes até demais... E por que isso é um defeito?
The God Crippled With One Leg é um filme experimental, categoria que, na maioria das vezes, busca o resultado sensorial. Uma confusão, um mal-entendido, uma história sem nexo: tudo é bem-vindo! E esse filme me gerou a sensação de estar vendo o ódio do criador, algo íntimo, mas tão íntimo que todo o filme se pauta numa sensação de enclausuramento: uma mulher amarrada em um apartamento vazio.
E quanto ao anjo? Ele não faria falta, não age, não sai do lugar. Mas é eficaz. Ele liga o espiritual ao mundo real, onde uma mulher está, aparentemente, sendo torturada. Essa conexão faz com que o filme, mesmo sem uma narrativa concisa, caia num cinema poético, mesmo sem uma palavra sequer. Assim, o filme define o que é e o que não é eficaz — acontece que tudo, absolutamente tudo, pode ter uma conexão com aquela garota amarrada.
Por fim, o que quis dizer com esse texto? O cinema atualmente é preguiçoso e subestima o público. É como treinar um músculo: se você não o exercitar, quando for posto à prova, estará fraco, preguiçoso... Por isso, filmes que tendem a deixar lacunas, experimentar e ir contra a maré do público (que tem medo de parecer ou se sentir inteligente) não fazem "sucesso". E isso não é uma crítica, apenas uma comparação. Filmes bobos sempre existiram, assim como os "inteligentes", mas é triste ver uma sociedade se limitando a filmes de heróis, sendo que todos poderiam consumir algo "inteligente" e se sentir satisfeitos, ter prazer! Não há pessoas "inteligentes" — não é um filme que te transformará, mas vários filmes, assim como livros, músicas e pinturas, que te dão o famigerado senso crítico. E isso, isso hoje em dia é raro, mesmo sendo uma das bases mais simples da filosofia.
Comments
Post a Comment