O Órfão (2018) - Carolina Markowicz | What kills a human being...

 Sinopse/Sinopsys: (English version below)

The story of Jonathas, an orphan who had been adopted and then “returned” due to his effeminate mannerisms.

Jonathas é um menino que vive em um orfanato esperando para ser adotado. Recebido por um casal para um período de experiência, ele logo é “devolvido” por causa de seu jeito afeminado. Agora Jonathas precisa lidar com uma nova realidade.

Crítica: 

O que mata, essencialmente, uma criança na sua grande maioria das vezes? A privação de sua autenticidade, de seu modus operandi, de se identificar como um ser humano com seu livre e, em tese, garantido direito de se expressar. Jonathas é um garoto que lida com a questão da expressão de gênero como qualquer outro, pois, na ideia de personalidade, assim como ele, diversos outros tiveram um alinhamento feminino que, apesar de normal, o coloca em uma caixa, uma pequena prisão que, se não regulada, o torna um ser que nunca será alguém. Digo isso porque, se cortarmos as asas de um pássaro enquanto filhote, nem mesmo se crescer outras e outras asas ele vai conseguir ser o mesmo pássaro, pois sua liberdade fora renegada enquanto estava no seu processo de se descobrir, de se enxergar perante o mundo; logo, Jonathas, a partir daquele momento, carregará um fardo, um trauma.

E o filme me tocou muito, uma vez que meu objetivo era assistir os curtas da diretora para tentar assimilá-los e assim organizar um texto só. No entanto, diante de O Órfão (2018), poucas vezes me senti tão agoniado, tão... É um filme claustrofóbico a todo momento; o garoto, por si só, já flertava com a ideia de ser "devolvido", e isso machuca. Dói ver como, na realidade, pessoas ainda são vistas como objetos por terem sido desfavorecidas socialmente, como sendo uma opção que partira delas, mas que, na verdade, provém de um governo fraco, incapaz e, mais do que isso, negligente com o lado humano dessas pessoas.

Talvez o curta nem seja um curta complexo. Talvez não seja, em prática, uma ideia genial. Mas tem ao seu lado a humanização, o compartilhamento de uma dor que é, até os dias de hoje, invisível aos olhos do povo, do governo, e que mexe com estruturas individuais que sequer vão ter a chance de um dia se recuperarem. É um filme que toca, que transforma o problema da sociedade em terror social em prática no filme, onde, realmente, se torna um filme de terror psicológico.

E um garoto que um dia sonhava em ter uma família reviveu um ciclo. Ciclo este que ocorre em todas as cidades, enfatizo do Brasil, e do mundo. É um filme que lida com a realidade de forma violenta, violenta e eficaz: o que era bonito ficou para a estética, e o feio, para a realidade social. Vítimas por vítimas, o sistema ainda pune...

English Review:

What essentially kills a child, the vast majority of the time? The deprivation of their authenticity, of their modus operandi, of identifying as a human being with their free and, in theory, guaranteed right to express themselves. Jonathas is a boy who deals with the issue of gender expression like any other, because, in the concept of personality, just like him, many others had a feminine alignment which, despite being normal, places him in a box, a small prison that, if not regulated, turns him into a being who will never be someone. I say this because, if we cut the wings of a bird while it's a chick, even if it grows other and other wings, it will never manage to be the same bird, because its freedom was denied while it was in its process of self-discovery, of seeing itself in the world; therefore, Jonathas, from that moment on, will carry a burden, a trauma.

And the film touched me deeply, since my goal was to watch the director's short films to try to assimilate them and thus organize a single text. However, faced with The Orphan (2018), I have rarely felt so anguished, so... It is a claustrophobic film at every moment; the boy, by himself, was already flirting with the idea of being "returned," and that hurts. It hurts to see how, in reality, people are still seen as objects for having been socially disadvantaged, as if it were an option that came from them, but which, in truth, comes from a weak, incapable government and, more than that, negligent with the human side of these people.

Perhaps the short film isn't even a complex short. Perhaps it isn't, in practice, a genius idea. But it has on its side the humanization, the sharing of a pain that is, to this day, invisible in the eyes of the people, the government, and that shakes individual structures that won't even have a chance to recover one day. It is a film that touches, that transforms society's problem into social terror in practice within the film, where it truly becomes a psychological horror film.

And a boy who once dreamed of having a family relived a cycle. A cycle that occurs in all cities, I emphasize Brazil, and the world. It is a film that deals with reality in a violent, violent and effective way: what was beautiful was left for aesthetics, and the ugly, for social reality. Victim by victim, the system still punishes...