Why are avant-garde movements important in the history of cinema?

There's an english version below!

PT:


Quando falamos de movimentos vanguardistas, os associamos à revolta, revolta essa proveniente de uma insatisfação que, superficialmente, se limita às obras de artistas conhecidos como Jean-Luc Godard, Glauber Rocha, entre outros. Mas será mesmo que os movimentos de vanguarda se limitam à arte? Não, não se limitam. Para construirmos um raciocínio, retrocedemos a uma das revoluções mais importantes de toda a história global: a Queda da Bastilha. A Queda da Bastilha foi um divisor de águas na história da França, sendo o principal momento em que a realidade social entrou em conflito contra si mesma, quando a burguesia, classe que explorava e maltratava o trabalhador, encarou a insatisfação e o ódio da classe menos favorecida.

Associando então a política à arte: não seriam os movimentos de vanguarda apenas uma parcela da insatisfação política de um país? Por isso, temos em mãos uma história, um relato da realidade, um verdadeiro documento: os movimentos de vanguarda são apenas uma parte da revolta política, são um meio de expressão de uma população revoltada e também uma forma de marcar a história de uma nação. Foi assim que nasceram livros, cartas e, mais adiante, filmes, entre outros.



Falando especificamente de cinema, os movimentos vanguardistas não se limitaram a criticar a política, mas também a renovar experiências sensoriais, narrativas e visuais, sendo um dos mais famosos a também francesa Nouvelle Vague. A Nouvelle Vague nasce da insatisfação de críticos da revista francesa Cahiers du Cinéma, como Éric Rohmer, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette e François Truffaut, que, frente à ascensão do cinema americano, começam a questionar a abordagem cinematográfica da época. O cinema americano, nos anos 60-70, estava no início de uma crescente que seria marcada cada vez mais pelo poderio financeiro. Aliado ao crescente número de mercados importando a "mercadoria" americana, isso representava uma potencial extinção do cinema fora dos EUA e uma colonização cultural, que de fato aconteceu. Logo, os cineastas citados criaram um movimento inconsciente que visava valorizar a cultura francesa para atingir a população, criando um senso de patriotismo, o que foi bem-sucedido, uma vez que o cinema francês sobreviveu e ainda vive. Isso contrasta com mercados do Sul Global que, generalizando, são reféns da cultura americana.



Isso nos leva a um novo tópico: por que o Sul Global não pôde se desfazer da cultura americana? A resposta é simples: porque foram colônias. Sejam colônias europeias ou dos EUA, tudo isso é um molde para a forma como as pessoas do Brasil, por exemplo, enxergam seu próprio cinema. A França, é bom lembrar, é um país do Norte Global e também colonizou, e muito. Mas voltando, o cinema brasileiro é subjugado pelo próprio povo por não ter sido "ensinado". É muito mais fácil apresentar um filme da Marvel para uma criança brasileira do que um filme nacional, ainda que infantil. Isso acontece porque, historicamente, uma nação sem senso de patriotismo e que foi colonizada tem uma dependência financeira, política e social extremamente atrelada ao país colonizador. Logo, a cultura do país colonizado foi se apagando aos poucos, pois esse é o objetivo do período colonial: impor ideais e subjulgar o país colonizado.




E, por fim, onde está a importância do cinema de vanguarda? O cinema de vanguarda tem como objetivo restaurar a visão de um povo, restaurar o sentimento nacionalista com base na sua história. E quando digo história, falo de períodos antes da colonização ou da superioridade burguesa; falo de valorizar povos originários, que surgiram e criaram uma cultura própria, e até mesmo dos sobreviventes do colonialismo e do abuso da burguesia que se uniram pela revolta, ou melhor, pela sobrevivência.

Ser um cinema de vanguarda é carregar consigo uma história que já não existe e, como dito, é uma ação contra a corrente utilizar uma linguagem que o próprio povo não irá consumir facilmente, tornando o produto de extrema importância, porém nichado. Apesar disso, é pela insistência que chegamos a resultados, como o impacto de Parasita (2019) na forma como a Coreia do Sul passou a enxergar seu próprio cinema, que é um cinema extremamente emergente e qualificado. No fim, o que resta é insistir, insistir e trilhar novos caminhos. O futuro é incerto, mas a projeção é positiva!



ENG:


When we talk about avant-garde movements, we associate them with revolt—a revolt stemming from a dissatisfaction that, superficially, is limited to the works of famous artists like Jean-Luc Godard, Glauber Rocha, among others. But are avant-garde movements really limited to art? No, they are not. To build a line of reasoning, let's go back to one of the most important revolutions in global history: the Fall of the Bastille.

The Fall of the Bastille was a watershed moment in French history, the key moment when social reality turned against itself, when the bourgeoisie, the class that exploited and mistreated the worker, faced the dissatisfaction and hatred of the less privileged class. Linking politics to art then: wouldn't avant-garde movements be an expression of a country's political dissatisfaction? Therefore, what we have in our hands is a genuine historical document: avant-garde movements are one part of political revolt, a means of expression for a revolting population, and a way to mark a nation's history. This is how books, letters, and later, films, among other things, were born.

Speaking specifically about cinema, avant-garde movements were not limited to criticizing politics but also aimed to renew sensory, narrative, and visual experiences. One of the most famous is the French New Wave (Nouvelle Vague). The New Wave was born from the dissatisfaction of critics from the French magazine Cahiers du Cinéma—such as Éric Rohmer, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, and François Truffaut—who, faced with the rise of American cinema, began to question the cinematic approach of the time. American cinema in the 1950s and 60s was at the beginning of an upswing marked by financial power. Combined with the growing number of markets importing the American "product," this posed a potential threat of extinction for cinema outside the US and led to cultural colonization, which indeed occurred. Thus, these filmmakers created a movement that aimed to value French culture to reach the population, fostering a sense of patriotism, which was successful since French cinema not only survived but still thrives. This contrasts with markets in the Global South, which, broadly speaking, are hostages to American culture.




This leads to a new topic: why couldn't the Global South rid itself of American culture? The answer is simple: because they were colonies. Whether European colonies or under US influence, this history shapes the way people in Brazil, for example, view their own cinema. France, it's worth remembering, is a Global North country and was also a major colonizer. Brazilian cinema is undervalued by its own people because it hasn't been "taught"; it's much easier to show a Marvel movie to a Brazilian child than a national film, even if it's a children's movie. This happens because, historically, a nation without a strong sense of patriotism that was colonized has a financial, political, and social dependency closely tied to the colonizing country. Thus, the culture of the colonized country was gradually erased, as this is the goal of the colonial period: to impose ideas and subjugate the colonized country.

Finally, where does the importance of avant-garde cinema lie? Avant-garde cinema aims to restore a people's vision and nationalist feeling based on their history. And when I say history, I mean periods before colonization or bourgeois hegemony; I mean valuing indigenous peoples, who created their own culture, and the survivors of colonialism and bourgeois abuse who united in revolt, or rather, for survival.



To be an avant-garde cinema is to carry a history that no longer exists, and it is an act against the current to use a language that one's own people will not easily consume, making the product extremely important, yet niche. Despite this, it is through persistence that we achieve results, such as the impact of Parasite (2019) on how South Korea came to view its own cinema, which is highly emergent and qualified. In the end, all that remains is to insist and forge new paths. The future is uncertain, but the projection is positive!




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