The word: adaptation!

 There's an english version below!


Adaptações: é necessário ser fiel?


Adaptação, no cinema, é um termo utilizado para referenciar uma obra da sétima arte que, em seu processo criativo, baseia-se em outras obras, como livros, pinturas e até mesmo outros filmes. Com isso, o que podemos concluir indiscutivelmente é que uma obra transposta para as telas é uma nova obra, com novos autores, representações e, principalmente, com a visão artística de um determinado universo. Portanto, entramos em uma das principais (e controversas) discussões do mundo do cinema: uma adaptação precisa ser idêntica à obra base?


A resposta sempre será "não". Ao serem adaptadas, as histórias ganham novas interpretações. Mas é um questionamento justo perguntar: "precisa mudar tanto a base?". Por mais que doa ver aquele projeto que você tanto ama sendo modificado bruscamente, ele é fruto da pluralidade de um novo artista; é uma versão paralela. Você não vai deixar de gostar da obra base. Pode não aprovar a adaptação, mas é uma pena enorme querer limitar a visão de um artista apenas porque a adaptação não foi igual à obra original.

Temos dois exemplos muito bons para referência: Duna. Duna é um livro histórico, referência na área sci-fi da literatura. Anos antes da versão de Villeneuve, David Lynch adaptou a obra. As obras se distanciam muito pela época, uma obviamente superior no que tange à tecnologia para se fazer uma obra do gênero. No entanto, temos duas versões que se distanciam não só pelo tempo, mas pelo conteúdo. O que quero destacar também é o impacto do filme de David Lynch na produção executiva do filme de Denis Villeneuve. Enquanto um foi considerado um fracasso, o outro chegou a participar do Oscar. Mas eu pergunto: sabendo do histórico do filme de 1984, Villeneuve adaptaria a história de maneira mais liberta em relação ao livro?

Há uma leve diferença adaptativa no que tange o nosso tema, a adaptação de algo é também uma forma de dar bagagem, concluir, interferir e organizar obras de uma maneira que possa conectar, por exemplo, Nosferatu de Murnau, a Nosferatu de Robert Eggers. São formas de rejuvenescer e cadenciar a evolução da obra acerca do tempo. Teremos provavelmente, daqui 20, 30 anos, uma visão totalmente distinta de um filme de Nosferatu, sendo uma possibilidade real de uma adaptação. Essa adaptação não seria sobre apresentar a obra e inovar público, mas sim, adaptar a obra ao tempo, como por exemplo, ocorreu à série "Scenes from a Marriage", adaptação e remake da série de Ingmar Bergman. Essas obras visam não só a visão artística, mas também como a venda necessita se adequar pois um filme mudo não venderia tanto quanto um filme colorido, modernizado e principalmente adaptado ao seu público geracionalmente falando.

Essa questão é pauta não somente em Duna, mas principalmente no cinema jovem, os famosos "coming-of-age", como, por exemplo, As Vantagens de Ser Invisível. São narrativas que permitem muito mais ao autor se deixar levar por um conteúdo. É interessante, por mais que possa ser um conteúdo limitado; é mais um olhar adicionado.  Como Greta Gerwig fez, Little Women possui caráter de liberdade criativa acima do potencial narrativo. É uma doçura que na época de adaptações antigas talvez não caísse bem pois a sociedade era diferente. As pessoas envelheceram, o público mudou, a empatia, por mais que escassa, se tornou ainda mais presente no cinema em específico. E isso aparece na obra de Greta para relembrar o mundo que, ainda que sejam tempos diferentes, aquelas meninas que estavam crescendo, precisavam de amor tanto quanto as atuais: não importa quanto o tempo passe, o sentimento é a única coisa que mantém o ser humano vivo... Sobretudo, surge mais uma pergunta: há um conservadorismo quando falamos de adaptações no cinema?



Essa pergunta, apesar de parecer óbvia, é extremamente relativa. Não dá para julgar um fã por querer uma adaptação fiel, mas muito provavelmente ele vai se decepcionar quando notar que Villeneuve, Lynch etc. são casos à parte. Nem todo diretor terá a liberdade necessária para adaptar um livro, seja a adaptação fiel ou não. Sendo assim, a proposta inicial de muitos filmes de adaptação é o lucro acima da qualidade. Consequentemente, o lucro e a linguagem artística modificada geram mudanças bruscas, essas decepcionando grande parte do público, porém, não seria essa uma forma de conceder ao público uma nova maneira de enxergar obras clássicas? Sendo assim, o lucro entra nessa questão como uma lâmina que está sendo usada para um golpe: o dinheiro guia obras grandes de adaptações, muitas vezes desagradando o público crítico, mas sendo extremamente eficaz no público comum. E através de métodos narrativos, de meios de venda, aquilo que antes era apenas um filme, carece de um segundo, um terceiro, e ao contrário de Duna, essa expansão é forçada pelo mercado, é uma carência que empresas criaram.

O Iluminado de Stanley Kubrick é mais do que um sucesso no cinema, no entanto, na literatura, poucas vezes se é citado como uma referência histórica. Isso se deve graças ao diretor que, em busca da liberdade criativa contrariou escolhas de Stephen King, que contrapõe a ideia narrada pelo filme, ou seja, a adaptação cinematográfica é uma obra à parte daquela original. E com isso utilizamos um exemplo concreto que valoriza não somente a obra base, respeitando suas individualidades, mas também engradecendo o ato de ser fiel a uma ideia, um conceito, em torno de uma obra nova: ser e crescer em meio a um cenário pré-existente não significa copiar uma figura de inspiração. A obra base pode ser modificada não somente pela justificativa de ser um novo meio de comunicação, mas também pelo conceito. O conceito de uma obra é basicamente sua alma, sua vida, e isso é o que torna ou não algo fiel. Assim como o citado Duna de Villeneuve e o de Lynch, a fidelidade de um é narrativa, o que consequentemente a torna uma adaptação fiel na visão conceitual. Já Lynch, com todos os problemas por trás das câmeras, busca uma adaptação conceitual que, devido a tais problemas, mais parecem pontas soltas: uma decepção para os fãs, mas para aqueles que não conhecem a obra, uma novidade, talvez até um ponto positivo...

Por fim, é muito mais significativo, no final das contas, enxergar adaptações como um mundo novo de determinado universo. Sendo ele bom ou ruim, a obra base sempre estará ali para revisitar. Resumindo: apoie, sinta, divirta-se com adaptações, mas tenha em mente que suas diferenças, defeitos e sucessos não foram possíveis por apenas uma pessoa, mas sim por todo um sistema de capital, tecnologia e autoria de uma equipe que, em tese, trabalha para a produção executiva visando o lucro.









ENGLISH: 


Adaptations: Is Fidelity Necessary?


Adaptation, in cinema, is a term used to reference a work of the seventh art that, in its creative process, is based on other works, such as books, paintings, and even other films. From this, what we can indisputably conclude is that a work transposed to the screen is a new work, with new authors, representations, and, primarily, with the artistic vision of a specific universe. Therefore, we enter one of the main (and controversial) discussions in the world of cinema: does an adaptation need to be identical to the source material?

The answer will always be "no." When adapted, stories gain new interpretations. But it's a fair question to ask: "does the foundation need to change so much?" As much as it hurts to see that project you love so much being drastically modified, it is the fruit of a new artist's plurality; it is a parallel version. You will not stop liking the source material. You may not approve of the adaptation, but it is a great shame to want to limit an artist's vision just because the adaptation wasn't identical to the original work.




We have two very good examples for reference: Dune. Dune is a historic book, a reference in the science fiction area of literature. Years before Villeneuve's version, David Lynch adapted the work. The works are very distant due to their era, one obviously superior in terms of the technology available to create a work of the genre. However, we have two versions that are distant not only in time but also in content. What I also want to highlight is the impact of David Lynch's film on the executive production of Denis Villeneuve's film. While one was considered a failure, the other went on to participate in the Oscars. But I ask: knowing the history of the 1984 film, would Villeneuve have adapted the story in a way more liberated from the book?

There is a slight adaptive difference regarding our theme; the adaptation of something is also a way to give baggage, conclude, interfere, and organize works in a manner that can connect, for example, Murnau's Nosferatu to Robert Eggers' Nosferatu. They are ways to rejuvenate and pace the evolution of a work concerning time. We will probably have, in 20 or 30 years, a totally distinct vision of a Nosferatu film, being a real possibility for an adaptation. This adaptation wouldn't be about presenting the work and innovating for the public, but rather adapting the work to the times, as happened, for example, with the series Scenes from a Marriage, an adaptation and remake of Ingmar Bergman's series. These works aim not only for artistic vision but also for how sales need to adapt because a silent film wouldn't sell as much as a colored, modernized, and primarily generationally adapted film for its audience.

This issue is relevant not only in Dune but mainly in young adult cinema, the famous "coming-of-age" stories, such as The Perks of Being a Wallflower. These are narratives that allow the author much more to let themselves be carried by content. It's interesting, even if it might be limited content; it's another added perspective. As Greta Gerwig did, Little Women possesses a character of creative freedom above narrative potential. It is a sweetness that in the time of old adaptations perhaps wouldn't have been well received because society was different. People have aged, the audience has changed, empathy, however scarce, has become even more present in cinema specifically. And this appears in Greta's work to remind the world that, even though times are different, those girls who were growing up needed love as much as current ones do: no matter how much time passes, feeling is the only thing that keeps the human being alive... Above all, another question arises: is there conservatism when we talk about adaptations in cinema?




This question, although seemingly obvious, is extremely relative. One cannot judge a fan for wanting a faithful adaptation, but they will most likely be disappointed when they notice that Villeneuve, Lynch, etc., are exceptional cases. Not every director will have the necessary freedom to adapt a book, whether the adaptation is faithful or not. Thus, the initial proposal of many adaptation films is profit over quality. Consequently, profit and modified artistic language generate drastic changes, disappointing a large part of the audience. However, wouldn't this be a way of granting the audience a new way of viewing classic works? Therefore, profit enters this question as a blade being used for a strike: money guides major adaptation works, often displeasing the critical audience but being extremely effective with the general public. And through narrative methods, through means of sale, what was once just a film now lacks a second, a third installment, and unlike Dune, this expansion is forced by the market, it is a need that companies created.

Stanley Kubrick's The Shining is more than a success in cinema; however, in literature, it is seldom cited as a historical reference. This is thanks to the director who, in pursuit of creative freedom, opposed Stephen King's choices, who counters the idea narrated by the film. In other words, the cinematic adaptation is a work separate from the original. And with this, we use a concrete example that values not only the source material, respecting its individualities, but also enhancing the act of being faithful to an idea, a concept, around a new work: to be and grow amidst a pre-existing setting does not mean copying a figure of inspiration. The source material can be modified not only by the justification of being a new medium of communication but also by the concept. The concept of a work is basically its soul, its life, and this is what makes something faithful or not. Just like the aforementioned Dune by Villeneuve and the one by Lynch, one's fidelity is narrative, which consequently makes it a faithful adaptation from a conceptual viewpoint. Lynch, with all the problems behind the cameras, seeks a conceptual adaptation that, due to such problems, seems more like loose ends: a disappointment for fans, but for those who don't know the work, a novelty, perhaps even a positive point...

Finally, it is much more significant, in the end, to see adaptations as a new world of a particular universe. Whether it is good or bad, the source material will always be there to revisit. In summary: support, feel, enjoy adaptations, but keep in mind that their differences, defects, and successes were not made possible by just one person, but by an entire system of capital, technology, and authorship of a team that, in theory, works for executive production aiming for profit.








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