Pinocchio (1940) - Walt Disney Studios | Freak movie... #SpookySeason

There's an english version below!

#C&CSPOOKYSEASON

#SpookySeason

Aqui estamos nós, Cine & Castigo, entrando na Spooky Season. Primeiro, vamos esclarecer brevemente: nossa Spooky Season será com filmes focados no horror em si, e não no gore. Por isso, sejam bem-vindos ao nosso primeiro filme de horror: Pinóquio (1940)!

Filme bizarro...

Gepetto era sádico. Irei começar assim e ressaltar detalhes do início ao fim do filme. Quando Pinóquio ainda era um boneco de madeira, as cenas com seus brinquedos de madeira eram de violência: criança sendo batida pela mãe, bonecos se batendo, pura violência. E isso nos dá uma certa base do que era Gepetto antes de Pinóquio: um homem obcecado por uma vida que provavelmente lhe propuseram.

Talvez seja uma teoria um tanto quanto pessimista, mas ainda assim temos como prova que ele possuía uma certa afeição pela violência, quase como um trauma. E quando chegamos ao fim, os bonecos que passam são de festas, alegria... Tenho isso como detalhes importantes para detalhar atos do mesmo, como por exemplo, a obsessão em ter um filho sem ao menos ter responsabilidade.

É um momento de egoísmo puro, o que alinhado ao que foi dito, revela um homem que escolheu ser pai, mas a paternidade não o escolheu. E por fim, Pinóquio foi tudo o que seu pai sonhou em ser.

É impressionante como esse filme brinca com a temática infantil, sendo um fruto de um pesadelo vivo. Temos temas tão pesados, tão torturantes de se ver que pouco falamos de como esse filme é importante para a formação de uma consciência social - esta, especificamente, para a conscientização das crianças - pois nele temos debates que, formalmente, são tidos como tabus já conhecidos, mas mostrados de maneira consciente, crua, e ainda assim, com a faixa etária efetiva.

É algo que a própria Disney não faz nos dias atuais, tampouco outras empresas. E o tráfico humano me traumatizou quando criança. Costumava assistir esse filme na escola, e com o passar dos anos sempre tive uma sensação ruim acerca dele, e hoje, 10/07/2025, entendi o porquê. Pinóquio é horrível pois é retratado em uma época de uma Itália também horrível, no cinema, o Neorrealismo Italiano.

Pinóquio é um filme que absorve toda a melancolia da época em que fora produzido que transforma seus detalhes mais doces em algo psicótico. A busca por uma humanização em tempos difíceis é nada mais nada menos do que buscar um respiro em meio ao caos: alguém que entenda que apesar da dor, ainda somos humanos.

E Gepetto fazia isso quando fazia arte. Sim, eu critiquei Gepetto por ser fruto de uma relação ruim, mas não tira seu dom de fazer arte. Mas sua falta de amor, sua busca em ser correspondido, de ser entendido, o transformou em um ser egoísta. O egoísmo de Gepetto é real quando, a partir do momento que ele ganha um boneco vivo, ele abandona o que de fato tem vida: sua cidade, seu gato, seu peixe...

Ele parte em busca de Pinóquio como um pai, mas ele larga toda a sua vida, e arrisca a vida daqueles que sempre estiveram ao seu lado para ir em busca de um fruto de um momento ilusório, quase que delirante. Portanto, o filme nunca fora sobre Pinóquio, mas sim, a redenção de Gepetto para a história de Gepetto.

Trazendo o filme para dias atuais, o que de fato é a Inteligência Artificial senão um Pinóquio? A IA é uma forma de vida, ok, porém sem alma, e assim como Pinóquio, precisaria de uma consciência externa para que enfim, tentasse se igualar ao ser humano.

Assim o filme de 1940 se prova muito pessimista, fato, mas ainda assim moderno. Sua modernidade se esconde atrás de um período onde o conhecimento provinha de teorias ainda mais insanas das que as atuais, onde o ser humano nutria violência, miséria e ego. E aí eu pergunto a vocês: não é a mesma coisa que hoje, em 2025?

O ser humano por si só é egóico, e Gepetto agiu com sua própria vontade, seu ego, abalado, onde um homem inseguro precisa de uma recompensa por não ter reproduzido a violência que o cercava, mas esqueceu que, a partir daquele momento, ele precisaria pensar por não somente duas, mas três mentes conscientes.

E assim rumamos ao final do filme: Pinóquio se torna um menino de verdade. Esse final me trouxe um ar de refresco, algo necessário para um filme infantil. Mas se olharmos no contexto da obra Pinóquio, suas releituras mantiveram o horror presente na história original, como Del Toro e o fascismo.

E por isso Pinóquio é um filme de horror, pois ele trata do horror humano através da linguagem objetivamente infantil, tendo cenas como as das crianças se transformando em burros e uma certa alegoria ao futuro trabalho escravo (além do tráfico de pessoas) que aqueles burros seriam forçados. É o primeiro filme da nossa SpookySeason por ser traumático, e ainda assim, uma fábula!

ENGLISH: 

#C&CSPOOKYSEASON

Here we are, Cine & Castigo, entering the Spooky Season. First, let us briefly clarify: our Spooky Season will focus on horror itself, not on gore. Therefore, welcome to our first horror film: Pinocchio (1940)!

It's a bizarre film...

Geppetto was sadistic. I will start with that and highlight details from the beginning to the end of the film. When Pinocchio was still a wooden puppet, the scenes with his wooden toys were filled with violence: a child being beaten by its mother, puppets hitting each other—pure violence. This gives us a certain basis for understanding who Geppetto was before Pinocchio: a man obsessed with a life that was probably proposed to him.

Perhaps it is a somewhat pessimistic theory, but we still have proof that he possessed a certain affection for violence, almost like a trauma. And when we reach the end, the puppets that appear are of festivities and joy... I consider these important details for elaborating on his actions, such as his obsession with having a child without even assuming the responsibility.

It is a moment of pure selfishness, which, aligned with what has been said, reveals a man who chose to be a father, but whom fatherhood did not choose. And finally, Pinocchio became everything his father dreamed of being.

It is impressive how this film plays with childish themes while being the product of a living nightmare. We have themes so heavy, so torturous to watch, that we seldom speak of how important this film is for the formation of a social conscience—specifically, for raising children's awareness—for within it, we find debates that are formally considered known taboos, but are shown in a conscious, raw manner, and yet, effectively aimed at its age rating. It is something that Disney itself does not do today, nor do other companies.

And the human trafficking traumatized me as a child. I used to watch this film in school, and over the years, I always had a bad feeling about it, and today, 07/10/2025, I understood why. Pinocchio is horrible because it is portrayed in an era of an also horrible Italy, in cinema, Italian Neorealism.

Pinocchio is a film that absorbs all the melancholy of the time in which it was produced, transforming its sweetest details into something psychotic. The search for humanization in difficult times is nothing more, nothing less, than seeking a breath amid the chaos: someone who understands that despite the pain, we are still human.

And Geppetto did this when he made art. Yes, I criticized Geppetto for being the product of a bad relationship, but it does not take away his gift for making art. However, his lack of love, his search to be reciprocated, to be understood, turned him into a selfish being. Geppetto's selfishness becomes real when, from the moment he gains a living puppet, he abandons what truly has life: his town, his cat, his fish...

He sets out in search of Pinocchio as a father, but he leaves his entire life behind and risks the lives of those who were always by his side to pursue the fruit of an illusory, almost delusional moment. Therefore, the film was never about Pinocchio, but rather, Geppetto's redemption for Geppetto's own story.

Bringing the film to the present day, what is Artificial Intelligence if not a Pinocchio? AI is a form of life, okay, but without a soul, and just like Pinocchio, it would need an external consciousness to finally try to equate itself to a human being.

Thus, the 1940 film proves to be very pessimistic, a fact, but still modern. Its modernity hides behind a period where knowledge came from theories even more insane than current ones, where human beings nurtured violence, misery, and ego. And so I ask you: is it not the same as today, in 2025?

The human being, by nature, is egotistical, and Geppetto acted upon his own will, his shaken ego, where an insecure man needs a reward for not having reproduced the violence that surrounded him, but forgot that, from that moment on, he would need to think for not just two, but three conscious minds.

And so we head to the film's ending: Pinocchio becomes a real boy. This ending brought me a sense of refreshment, something necessary for a children's film. But if we look at the context of the work Pinocchio, its reinterpretations have maintained the horror present in the original story, like Del Toro's and fascism.

And that is why Pinocchio is a horror film, because it deals with human horror through an objectively childish language, featuring scenes such as children turning into donkeys and a certain allegory to the future slave labor (in addition to human trafficking) that those donkeys would be forced into. It is the first film of our SpookySeason for being traumatic, and yet, a fable!