Nouvelle Vague (2025) - Richard Linklater | Agressive way of making a film

 There's an english version below! 

Nouvelle Vague

Quando vi que iria sair um filme sobre o principal movimento da história do cinema, prontamente assumi uma posição defensiva — afinal, o que esperar de um filme biográfico sobre um movimento inteiro? E, de fato, Nouvelle Vague do Linklater é um filme que funciona se analisado como retrato de uma época que ainda estava nascendo.

No entanto, ao assumir um papel de uma nova narrativa, ao usar a metalinguagem de colocar um filme dentro de um filme, o longa torna-se repetitivo. Em certos momentos, tais repetições incomodam não por serem ruins, mas porque até mesmo a montagem soa cansativa, com cortes bruscos e sem avanço. Aquilo que mais me agrada em um filme são justamente os momentos contemplativos, aqueles minutos em silêncio nos quais ficamos apenas nós e a cena. Linklater não usa dessa ferramenta, mesmo sendo esta uma das principais características do cinema francês. Nouvelle Vague é um filme que se adequa, referencia e usa o material real como forma de revisitar o passado — e, como dito, sua repetição soa gratuita.

Por outro lado, temos aqui talvez um dos maiores cineastas da história; porém, nosso debate vai girar em torno de outra vertente apresentada pelo filme: os Cahiers du Cinéma. Quando um mundo está insatisfeito, há um desejo constante e insistente de mudança. Nele, reside a vontade individual, e nisso mora a beleza de ser artista, de viver pela arte: identificar os pontos que nos incomodam, mudá-los e trazer à tona aquilo que nos agrada. Fazer um filme torna-se um processo cansativo quando o set é moldado pelo ego — ego esse que é fruto do sucesso. Assim, nos perguntamos: o que era sucesso para Godard? O sucesso de Godard talvez seja um dos mais tristes da história da arte: seu reconhecimento superou sua desconfiança, mas, até hoje, suas obras são ligadas, erroneamente, a uma interpretação daqueles que não se deixaram absorver pela narrativa do diretor.

Outrora, fazer um filme com uma temática e personagens tão amplos poderia soar pretensioso. Na minha visão, porém, Linklater conferiu ao filme um tom muito mais íntimo do que técnico — e com isso quero dizer que é mais palpável enxergar Godard, Truffaut, Seberg e outros como pessoas do que necessariamente como artistas. O filme oferece forma, personalidade e funcionalidade a cada um de seus atores. Com isso, Nouvelle Vague ganha um corpo diferente das biografias atuais: o recorte do cenário francês é muito mais sobre características do que sobre uma obra em si. E essa escolha mostra-se inteligente, pois evita caminhos que, senão clichês, causariam o erro da continuação.

Por fim, Nouvelle Vague é uma homenagem bonita! É um filme sobre cinema, que apresenta a nova cinefilia aos mestres da Nouvelle Vague. Considero-o muito mais educativo do que artístico — um longa em que as pessoas poderão conhecer ou relembrar nomes importantes do cinema, enquanto acompanham as referências. Sendo assim, Nouvelle Vague é um filme excêntrica e excêntricamente bom. Não é genial, não tem dramas complexos, mas é, ainda assim, um filme para quem quer assistir a algo e, de quebra, conhecer novos artistas.

ENG: 

Nouvelle Vague

When I heard that a film was coming out about the most important movement in cinema history, I immediately became defensive—after all, what can one expect from a biographical film about an entire movement? And indeed, Linklater's Nouvelle Vague is a film that works if analyzed as a portrait of an era that was still in its infancy.

However, by adopting the role of a new narrative and using the meta-technique of placing a film within a film, the feature becomes repetitive. At certain points, these repetitions are bothersome not because they are bad, but because even the editing feels tiresome, with abrupt cuts and no sense of progression. What I appreciate most in a film are precisely the contemplative moments, those silent minutes when it's just us and the scene. And Linklater does not use this tool, even though it is one of the main characteristics of French cinema. Nouvelle Vague is a film that adapts, references, and uses real material as a way to revisit the past—and, as mentioned, its repetition feels gratuitous.

On the other hand, we are dealing with perhaps one of the greatest filmmakers in history; however, our debate will revolve around another aspect presented by the film: Cahiers du Cinéma. When a world is dissatisfied, there is a constant and insistent desire for change. Within it lies the individual will, and therein lies the beauty of being an artist, of living for art: to identify the points that bother us, change them, and bring to light what we enjoy. Making a film becomes a tiresome process when the set is shaped by ego—an ego that is the fruit of success. This leads us to ask: what was success for Godard? Godard's success is perhaps one of the saddest in the history of art: his recognition overcame his mistrust, yet to this day, his works are erroneously linked to an interpretation by those who did not allow themselves to be absorbed by the director's narrative.

In the past, making a film with such a broad theme and characters could sound pretentious. But in my view, Linklater made the film's tone much more intimate than technical—by which I mean it's much more palpable to see Godard, Truffaut, Seberg, and others as people rather than necessarily as artists. The film gives shape, personality, and functionality to each of its actors. Because of this, Nouvelle Vague has a different body from contemporary biographies; the focus on the French scene is much more about characteristics than about a specific work. And this choice proves intelligent by avoiding paths that, if not clichéd, would have caused the error of continuation.

Finally, Nouvelle Vague is a beautiful tribute! It is a film about cinema, in addition to introducing the new cinephilia to the masters of the Nouvelle Vague. It is a film I consider much more educational than artistic—a feature where people will get to know, or remember, important names in cinema while following the references. Therefore, Nouvelle Vague is an eccentrically good film. It is not genius, it has no complex dramas, but it is still a film for those who want to watch something and also get to know new artists!

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