The Novelist's Film (2022) - Hong Sang Soo | I'm a writer, maybe a human...

 There's an english version below! 

Escritores e sentimentos

"The Novelist's Film" é um tipo de filme que me agrada pela forma de ser de Hong Sang-soo. É melódico, talvez o mais melódico da carreira do diretor, além de extremamente autoral. Quando digo autoral, quero dizer que, assim como em On the Beach at Night Alone, o diretor usa sua própria carreira e vida pessoal para dizer algo — neste caso, a estagnação na vida daqueles que vivem da escrita.

Esse hiato forçado, muitas vezes incômodo, é uma apresentação do inconsciente que pede, suplica e implora por uma pausa. A ativação do método linguístico como forma de profissão é cansativa. Sendo assim, a importunação ativa frequentemente se torna um mecanismo de defesa do escritor: ativo ou não, continuar escrevendo ainda é a principal forma de cumprir uma profissão diariamente. Sem o descanso necessário, aquele que vive da escrita se vê frente a frente com a hipocrisia fundamentada na exaustão. Ou seja, quando as ideias são postas em prática, tornam-se incongruentes e incapacitadas; dessa maneira, a história a ser escrita demonstra uma fraqueza, esta graças à fadiga. Enfim, trabalhar com criatividade é entender que há momentos em que a pausa é tão necessária quanto a atividade.

E assim, o longa de Sang-soo retrata uma vida tão real quanto fictícia. Nele, o escritor ganha um formato humano e delicado, sendo, por fim, uma representação do escritor como uma forma crua de vida. E, ao optar por colocar uma pessoa comum no meio de pessoas conhecidas e desconhecidas, o diretor humaniza o artista. Hong Sang-soo é um diretor que utiliza o realismo como método de filmagem, lançando mão da improvisação do ator para que a narrativa tenha fluidez

E por que cito isso? Pois é essa realidade, recheada de contradições e redundâncias, que torna o filme algo natural. Essa naturalidade das falas, essa verdade, tornam seus 90 minutos um mecanismo de verdadeira eficácia!

E sabem o que eu tenho que admitir ao escrever um texto sobre Hong Sang-soo? É difícil escrever sobre um filme que, em tese, foi montado para sentir. Para sentir os diálogos, os planos-longos. Eu poderia sentar aqui e escrever coisas como "o filme é lindo, pois é tecnicamente simples", mas seria uma crítica fundamentada na técnica, o que não é a alma do filme.

A alma de The Novelist's Film é, principalmente, a formatação de uma realidade que pode acontecer em qualquer lugar do mundo; é a forma com que tudo parece uma conversa de esquina, encontros de bares e afins. Por isso, me perdoem pela crítica curta, mas espero que este texto faça com que vocês reflitam sobre a arte de Hong Sang-soo como um todo, como um sentimento, resignifiquem o que é o cinema moderno e entendam a visão de como o cinema é pautado. Enredos nem sempre são um molde, e The Novelist's Film prova isso.

ENGLISH:

Writers and feelings

The Novelist's Film is the kind of movie I appreciate because of Hong Sang-soo's unique way of being. It is melodic, perhaps the most melodic in Hong Sang-soo's career, and extremely personal. When I say personal, I mean that, much like in On the Beach at Night Alone, the director uses his own career and personal life to say something—in this case, about the stagnation in the lives of those who live by writing.

This forced hiatus, often uncomfortable, is a presentation of the unconscious mind that asks, pleads, and begs for a break. The constant activation of the linguistic method as a form of profession is tiring. Therefore, active nuisance often becomes a defense mechanism for the writer: whether active or not, continuing to write is still the primary way to fulfill a profession daily. Without the necessary rest, those who live by writing find themselves face-to-face with a hypocrisy grounded in exhaustion. That is, when ideas are put into practice, they become incongruous and incapacitated; thus, the story to be written demonstrates a weakness, thanks to fatigue. In short, working with creativity is understanding that there are moments when the pause is as necessary as the activity.

And so, Sang-soo's feature film portrays a life as real as it is fictional. In it, the writer is given a human and delicate form, ultimately being a representation of the writer as a raw form of life. And by choosing to place an ordinary person among both known and unknown people, the director humanizes the artist. Hong Sang-soo is a director who uses realism as a filming method, employing actor improvisation so that the narrative has fluidity.

And why do I mention this? Because it is this reality, filled with contradictions and redundancies, that makes the film feel natural. This naturalness of the dialogue, this truth, makes its 90 minutes a mechanism of true effectiveness!

And you know what I have to admit about writing a text about Hong Sang-soo? It's difficult to write about a film that was, in theory, assembled to be felt. To feel the dialogues, the long takes. I could sit here and write things like "the film is beautiful because it is technically simple," but that would be a critique based on technique, which is not the soul of the film.

The soul of The Novelist's Film is, primarily, the formatting of a reality that could happen anywhere in the world; it's the way everything feels like a casual street corner conversation, encounters in bars, and the like. Therefore, forgive me for the short critique, but I hope this text makes you reflect on Hong Sang-soo's art as a whole, as a feeling, resign what modern cinema is, and understand the vision of how cinema is guided. Plots are not always a mold, and The Novelist's Film proves that.

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