Hausu (1977) - Nobuhiko Obayashi | We laugh, but it's scary... #SPOOKYSEASONC&C

 There's an english version below! 

#SPOOKYSEASON

HAUSU (1977) 

Rimos, mas estamos com medo...

A fantasia é um tópico crucial para que possamos entender a arte como um todo. Sendo um fator decisivo, a imersão de uma história passa pela recepção da realidade. Ou seja, através do complexo real, temos a identificação, e nessa identificação mora o primeiro contato do filme com o telespectador: o filme se vende, e nós o compramos. Mas, quando falamos de Hausu, temos a realidade como um mero detalhe de percepção da filmagem; vemos ali Blanche, um pet e pessoas. E, enfim, onde temos a fábula?

Primeiro de tudo, a fábula é originária de eventos que, durante a história da humanidade, não tiveram explicações lógicas, resultando na fomentação da criatividade humana. Com isso, a fantasia é um fruto de sobrevivência, uma maneira de enxergar a realidade sem compreendê-la, como, por exemplo, "estamos sozinhos no universo?" ou "o que acontece quando morremos?". Desde então, perguntas sem respostas se tornam hipóteses, que se tornam histórias, histórias se tornam fatos e, consequentemente, temos na ficção/fantasia um ato de sobrevivência, uma manutenção de fuga para que estejamos sãos. E como Hausu imerge a história sem deixar de lado a realidade?

O filme conta a história de um grupo de garotas que, propriamente dito, possui características de personagens de filmes infantis, como, por exemplo, Mac, uma jovem representada pela gula. Assim, temos uma padronização de atos, nichos e possibilidades, onde o filme se limita às características dos nomes, não aprofundando em nenhuma personagem de modo mais realista. É por isso que o filme se destaca dos diferentes filmes de terror da época e a razão pela qual, anos depois, tenha se tornado um clássico do terror cult. Ainda assim, apesar da falta de aprofundamento, analisamos aqui a forma com que o filme pretende nos entregar o produto, que é através da comédia. Entramos, assim, na consciência narrativa de unir a comicidade ao terror.

A comédia por si só é uma vertente do drama, e em Hausu ela é um modo de tornar a violência ainda mais violenta. Isso ocorre graças à soma do gore, da trilha sonora – que guia o tom das cenas – e das características essencialmente caricatas. Portanto, através de uma comédia boba, o filme enfatiza que é um terror e inova na criação de uma história básica, feia e funcional.

Hausu se torna um clássico a partir do momento em que a fantasia é cada vez mais aceita. O cinema, assim como o público, é cíclico. Atualmente, Hausu provavelmente seria taxado de um filme limitado, e podemos, enfim, adentrar em uma nova pergunta: Hausu teria espaço no cinema atual, mantendo suas características cruciais? A resposta é não. O ciclo do cinema é muito violento com filmes majoritariamente experimentais, como é o caso de Hausu, que utiliza a tecnologia para experimentar tanto visualmente quanto narrativamente. Sendo um longa que ironiza o terror americano – uma vez que é o mercado mais influente do mundo no gênero e que, na época, era uma máquina de produção, a tal da superprodução, onde a quantidade está acima da qualidade –, com isso, o restante do mundo consumia a cultura dos EUA. Mas os cineastas em si enxergavam que essa padronização dos produtos interferia no mercado interno, no caso do nosso texto, o Japão.

Por fim, Hausu é um filme de violência extrema, relativamente à comédia; é um filme trash. Apesar de esse termo remeter ao "ruim que funcionou", "trash" é reducionista. Ser uma experiência acima de ser um filme é um ato raro na sétima arte, e Hausu faz isso. Portanto, assistam assim que possível: é um clássico do cinema de horror, e com razão!

English: 

Hausu (1977)

We laugh, but it's scary...

Fantasy is a crucial topic for understanding art as a whole. As a decisive factor, the immersion of a story involves the reception of reality. In other words, through the complex real, we have identification, and within this identification lies the first contact between the film and the viewer: the film sells itself, and we buy it. But when we talk about Hausu, we see reality as a mere detail of the film's perception; we see Blanche, a pet, and people. So, where is the fable?

First of all, the fable originates from events that, throughout human history, had no logical explanations, resulting in the fostering of human creativity. Therefore, fantasy is a fruit of survival, a way of seeing reality without understanding it, such as, "are we alone in the universe?" or "what happens when we die?". Since then, unanswered questions become hypotheses, which become stories, stories become facts, and consequently, we have in fiction/fantasy an act of survival, a maintenance of escape so that we may remain sane. And how does Hausu immerse us in the story without leaving reality behind?

The film tells the story of a group of girls who, aptly enough, possess characteristics of characters from children's movies, for example, Mac, a young girl represented by gluttony. Thus, we have a standardization of acts, niches, and possibilities, where the film limits itself to the traits suggested by their names, without delving into any character in a more realistic way. This is why the film stands out from the different horror films of its time and the reason why, years later, it became a cult horror classic. Still, despite the lack of depth, we analyze here the way the film intends to deliver its product, which is through comedy. And so we enter the narrative consciousness of uniting comedy with terror.

Comedy itself is an offshoot of drama, and in Hausu, comedy is a way of making violence even more violent. This happens thanks to the combination of gore, the soundtrack—which guides the tone of the scenes—and the essentially caricatured traits of the characters. Therefore, through silly comedy, the film emphasizes that it is a horror movie, thus innovating in the creation of a basic, ugly, and functional story.

Hausu became a classic from the moment fantasy became increasingly accepted. Cinema, like its audience, is cyclical. Today, Hausu would probably be labeled a limited film, and we can finally delve into a new question: would Hausu have a place in today's cinema, while maintaining its crucial characteristics? The answer is no. The film industry cycle is very harsh on predominantly experimental films, as is the case with Hausu, which uses technology to experiment both visually and narratively. It is a feature film that ironizes American horror—since it is the most influential horror market in the world and, at the time, was a production machine, the so-called superproduction, where quantity surpasses quality. As a result, the rest of the world consumed US culture, but filmmakers themselves saw that this standardization of products interfered with the domestic market, in the case of our text, Japan!

Finally, Hausu is a film of extreme violence, relative to its comedy; it is a trash film. Although this term implies "so bad it's good," "trash" is reductive. Being an experience more than it is a film is a rare act in the seventh art, and Hausu does just that. Therefore, watch it as soon as possible; it is a classic of horror cinema, and for good reason